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17/02/2006 - 02h15

Stones mostram que sabem fazer rock

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha de S.Paulo

Sobre os Rolling Stones, já se escreveu que eles seriam mais respeitáveis se estivessem mortos. Que o verdadeiro lugar deles é Las Vegas, antecâmara da morte no mundo do rock. Que seus shows, baseados em canções com mais de 30 anos, emanam bolor.

Mas, também sobre Rolling Stones, já se disse que fazem os melhores shows do mundo. Que são a única banda do planeta a completar 43 anos de atividade e conseguir lançar um bom disco ("A Bigger Bang"). Que, em cima do palco, são sessentões com a energia cinética de garotos de 16 anos.

Era mais fácil escrever sobre os Stones nos anos 90. A banda fazia turnês declaradamente caça-níqueis. Lançava discos opacos, como "Voodoo Lounge" (1994) e "Bridges to Babylon" (1997). Estavam certos os analistas que, na época, chamavam de circo necrófilo a permanência dos Stones na estrada.

Mas, como se costuma dizer no universo pop, o segredo do sucesso e da respeitabilidade pode ser, muitas vezes, apenas a insistência. Achincalhados pela crítica nos 90, resistiram. A que preço, não se sabe. Comenta-se que eles se detestam, que só se vêem no palco (Jagger nega, mas ele mesmo já disse que tudo o que fala em entrevistas é mentira). O fato é que ficaram em pé.

Nos anos 60, os Stones --mais especificamente seu guitarrista Keith Richards-- inventaram sozinhos o estilo de vida de sexo, drogas e rock'n'roll. Quando seus principais concorrentes, os Beatles, ainda estavam sendo apresentados à maconha (por ninguém menos que Bob Dylan), os Stones já eram os roqueiros que todo pai inglês odiava. Eram provocadores, indecentes. Zombavam da burguesia e da nobreza britânicas. Richards zomba até hoje. Não consegue segurar os palavrões quando se refere à aceitação, por Jagger, do título de "sir".

Quando os Beatles começaram a se desprender de sua fórmula original (basicamente, imitar o rock americano de pioneiros como Chuck Berry), os Stones correram atrás. Os Beatles fizeram o álbum quase experimental "Revolver" (1966). Os Stones responderam, no ano seguinte, com "Between the Buttons". Os Beatles mergulharam na psicodelia em "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967). Dessa vez, os Stones levaram só cinco meses para pegar a mesma onda, com o álbum "Their Satanic Majesties Request".

John Lennon reclamou: "Dá vontade de fazer uma lista de tudo o que fizemos e os Stones fizeram igual dois meses depois. A gente faz, Mick faz o mesmo. Ele nos imita". Os Stones não tinham jeito, não tinham escrúpulos. Eram 100% rock'n'roll.

Quando Brian Jones, guitarrista e fundador dos Stones, morreu afogado em 1969, a banda não deu a mínima. Jagger consolidou sua liderança e se sentiu aliviado por se livrar do encrenqueiro Jones.

Em 1970, os Beatles acabaram. Os Stones, não. E, em 1972, lançaram o que para muitos é até hoje seu melhor trabalho: o álbum duplo "Exile on Main St.", em que a banda mostra completo domínio de suas influências (blues e rock dos EUA) ao mesmo tempo em que cria uma sonoridade nova e contemporânea, em músicas como "Thumbling Dice", que poderá ser ouvida em Copacabana.

Sobre esse disco, um dos críticos mais influentes de todos os tempos, Lester Bangs, escreveu: "Na primeira vez, é difícil de ouvir. Mas a precisão e a fúria que se revelam por entre as trevas fazem você voltar outras vezes, escutando mais a cada audição".

Esses Rolling Stones de espírito "Exile on Main St.", que excursionam novamente pelo mundo e desembarcam hoje no Brasil, não são apenas 11 anos mais velhos do que os que tocaram pela primeira vez no país, em janeiro de 95.

São também 11 anos mais respeitáveis.

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